quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Livros

VALOR ECONÔMICO -SP | EU INVESTIMENSTOS
ENERGIA 20/09/2011

Tudo sobre petróleo e o mundo à sua volta
Ed Crooks | Do "Financial Times"
"The Quest - Energy, Security and the Remaking of the Modern World"
Daniel Yergin. Allen Lane. 816 págs., £ 30

"The Prize", de Daniel Yergin, publicado pela primeira vez em 1991, é
uma obra- prima, um dos poucos livros que, pode-se afirmar, é leitura
essencial para quem queira entender a política internacional.

É um épico, vencedor do Prêmio Pulitzer, sobre a indústria do
petróleo, desde o primeiro poço aberto na Pensilvânia, em 1859, até a
invasão do Kuwait por Saddam Hussein, em 1990 --, uma história
inspiradora em sua abrangência e eletrizante em seu ritmo narrativo.
Mais do que simplesmente uma crônica industrial, funciona como uma
história oculta do século XX, revelando a frequência com que o
petróleo - sua presença ou sua falta - constituiu-se em fator decisivo
nos assuntos internacionais.
Mesmo assim, nas duas décadas desde a publicação de "The Prize", uma
série de eventos transformou o mundo da energia: o colapso da União
Soviética, a ascensão da China, os atentados terroristas de 11 de
setembro de 2001 e as invasões do Afeganistão e do Iraque, e a
emergência das mudanças climáticas como questão política. Vale
comemorar o fato de Yergin ter retornado com sua visão de perspectiva
em um cenário bastante diferente. "The Quest" não atinge exatamente o
mesmo nível de seu antecessor, mas, ainda assim, trata-se de outra
obra que exige leitura.
Este segundo livro de Daniel Yergin dá continuidade à sua obra
clássica, de 1991, uma espécie de história oculta do século XX
O novo livro cobre um período de tempo mais curto, mas um campo mais
amplo. Começa exatamente onde "The Prize" termina, com as forças
iraquianas no Kuwait e a desintegração da União Soviética prestes a se
tornar visível. As primeiras 341 páginas dão sequência à história do
petróleo e do gás até o presente, com referências à reunião de junho
de 2011 da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) e os
levantes da Primavera Árabe.
Daí em diante, a abordagem muda. Yergin volta a fita, recuando para o
passado várias vezes para contar histórias sobre outros aspectos do
setor de energia: a geração de eletricidade, a discussão sobre
mudanças climáticas, a energia renovável e a história acidentada do
carro elétrico. O efeito faz "The Quest" parecer quatro ou cinco
livros em um, sem a propulsão da narrativa linear de "The Prize". Se o
livro anterior era novelístico, "The Quest" é mais parecido com um
guia ou livro de instrução para iniciantes.
É impossível pensar em uma introdução melhor a questões essenciais da
energia no século XXI. Na prosa lúcida e fácil de Yergin, as 800
páginas fluem livremente. Há alguns esboços intensos de personagens,
como Marion King Hubbert, o brilhante e entusiasmado criador da teoria
do "peak oil" (pico do petróleo): a ideia de que o mundo está na taxa
máxima de produção de petróleo de todos os tempos, ou perto dela.
Há também muitas observações admiravelmente reveladoras, além de
relatos curtos, como o que envolve John Prescott, então
vice-primeiro-ministro britânico e principal negociador europeu na
conferência sobre o clima de Kyoto, em 1997, sendo reprimido por seu
colega americano para que aceitasse o "cap-and-trade" como único
instrumento global de controle dos gases que produzem o efeito estufa.
"Cap-and-trade" é o sistema que limita as emissões desses gases e
prevê a comercialização de licenças para essas emissões.
Yergin tem certeza de que os combustíveis fósseis terão papel central
no sistema de energia ainda por várias décadas
É fascinante descobrir que os primeiros Fords T podiam rodar com
etanol e que Thomas Edison apresentou em 1910 uma bateria que prometia
movimentar um carro por 95 quilômetros com uma única carga -
desempenho que parece admirável, se comparado aos 55 quilômetros
oferecidos pelo Chevy Volt (que também possui um gerador de apoio
movido a gasolina) nos "show rooms" de hoje.
Acima de tudo, o valor de "The Quest" está na clareza e imparcialidade
do pensamento de Yergin. Sobre a invasão do Iraque em 2003, liderada
pelos Estados Unidos, ele faz em duas páginas a mais clara e mais
convincente avaliação que já vi - certamente mais plausível que
qualquer coisa oferecida pelos apologistas da guerra na época - sobre
por que ela foi uma necessidade estratégica difícil, mas inevitável. E
então, com igual precisão econômica, Yergin exibe a arrogância e a
falta de planejamento que condenaram o Iraque à tragédia que se
seguiu.
Sobre as mudanças climáticas, Yergin reconhece corretamente a
complexidade da ciência, ao mesmo tempo em que deixa o leitor sem
dúvidas quanto ao peso das opiniões científicas.
Yergin tem um ponto de vista: admira e apoia a indústria do petróleo e
do gás. (Ele também é consultor atuante no setor, com a Cambridge
Energy Research Associates, sua muito bem-sucedida consultoria, que
hoje faz parte do grupo IHS.) Suas análises frequentemente ecoam o que
se pode chamar de opinião esclarecida sobre a indústria do petróleo:
ele não acredita na teoria do pico do petróleo e tem certeza de que os
combustíveis fósseis terão um papel central em nosso sistema de
energia por décadas.
Ele é um eutusiasta do potencial do gás de xisto, produzido a partir
de rochas que antes não tinham potencial econômico, por meio da
controvertida prática do "fracking" - injeção de água, areia e
produtos químicos em rochas enterradas a profundidades de 1,5
quilômetro, para fraturá-las e liberar o gás --, embora reconheça que
deverá haver "muita discussão" sobre a segurança e a regulamentação do
setor. Recentemente, Yergin participou de um grupo consultivo do
governo americano que recomendou a continuidade de aplicação do
"fracking", embora com padrões de segurança mais rígidos a serem
adotados pelo setor.
Embora suas posições sobre essas questões possam ser contestadas, e
sem dúvida serão, é difícil refutar seus julgamentos. Yergin tem sido
criticado por ser excessivamente duro com Hugo Chávez, o demagógico e
cada vez mais autocrata presidente da Venezuela. No entanto, da
perspectiva de um especialista em petróleo, ver os danos que as
políticas de Chávez estão provocando à outrora dinâmica indústria
petroleira do país deve ser particularmente difícil evitar ficar
furioso e entristecido com o governo venezuelano.
Enquanto o livro era impresso, o mundo da energia inevitavelmente se
mostrava instável. As consequências das revoltas árabes ainda estão se
revelando, a reação contra as regulamentações ambientais e outras nos
Estados Unidos está ganhando força, e o compromisso da China de
produzir energia "limpa", como a eólica e a solar, e carros elétricos,
pode continuar no campo das possibilidades. Yergin termina sua análise
de vários tópicos com uma observação honesta, mas frustrante, de que
"é muito cedo" para saber como isso vai se desenrolar. Datado já ao
chegar às livrarias, "The Quest" é, ainda assim, o guia definitivo
para se saber como chegaremos lá.
"The Prize" adquiriu uma condição mística entre aqueles que trabalham
no setor de energia e os que o acompanham. Novos jornalistas que estão
se iniciando no assunto recebem cópias do livro de colegas mais
experientes, como soldados de infantaria sendo presenteados com cópias
da Bíblia antes de seguirem para a frente de batalha.
É difícil antever "The Quest" sendo prestigiado da mesma forma. De
todo modo, certamente este novo livro de Yergin se mostrará tão
valioso quanto o primeiro.

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